A influência do pensamento sobre a ansiedade
- Gisele Ceciliano
- 1 de abr. de 2017
- 3 min de leitura
A respiração curta, rápida e peitoral inicia os sintomas físicos da ansiedade. Mas, ela não é a única responsável por desencadear nosso mecanismo de defesa diante de situações ameaçadoras. É a nossa percepção sobre o risco da situação, sobre a nossa capacidade de enfrentamento e sobre a expectativa de como as outras pessoas nos avaliarão que dá início a todo o processo. Ou seja, é o pensamento, o modo como percebemos e avaliamos o contexto, a nós mesmos e o outro que define os indicativos de perigo de uma experiência. Um prédio em chama, por exemplo, representa um perigo real, mas o medo e a ansiedade diante dele serão experienciados de maneira distinta quando comparamos a reação de um bombeiro e de um morador leigo em técnicas de combate ao fogo. Embora para ambos haja um risco de morte nessa situação, a percepção do bombeiro sobre sua própria capacidade em lidar com o perigo, considerando seu conhecimento e experiência profissionais, faz com ele tenha um nível menor de ansiedade em relação àquele que não sabe como agir diante da ameaça do fogo.
Em se tratando do Transtorno de Ansiedade o processo é similar. É a avaliação da situação e da nossa capacidade de enfrentamento que gera os sintomas da ansiedade. A diferença, nesse caso, é que a ameaça percebida não confere um risco real à sobrevivência. Ela é fruto da imaginação e se refere a um risco de caráter emocional, psicológico. É por esse motivo que chamamos de Perigo Imaginário. De modo geral, resulta de uma distorção da realidade, em que a pessoa supervaloriza a ameaça, subestima a própria capacidade de enfrentamento ou fantasia que os outros possuem uma percepção negativa sobre ela.
A base da nossa percepção e julgamento são as crenças que desenvolvemos, desde a infância, por meio de frases ditas repetidas vezes por nossos pais, familiares, professores ou por qualquer outra pessoa de importância significativa. Elas compõem o entendimento sobre nossas experiências e nos servem de parâmetro para definir o que é perigoso e o quanto somos capazes de lidar com o perigo. Imagine uma criança que convive com um cachorro, tem a possibilidade de brincar com ele, tocá-lo e sempre ouve dos pais que o cachorro é amigável. O mais provável é que ela desenvolva uma percepção positiva sobre o cachorro e queira aproximar-se dele. Diferentemente, uma criança que não tem essa oportunidade de convívio, e ouve várias vezes que ela não deve chegar perto do cachorro porque ele é muito perigoso, vai tender a apresentar uma reação de medo e evitação quando vir um cachorro.
As crenças também podem estar baseadas na compreensão que um indivíduo tem sobre os comportamentos observados. Para facilitar o entendimento, imagine uma criança que presencia a mãe tendo uma reação de pavor ao ver uma borboleta. Diante dessa experiência, a criança pode concluir que, se uma pessoa “grande” tem medo de borboletas, elas devem ser muito perigosas e, a partir disso, passar a sentir medo ou, até mesmo, desenvolver uma fobia de borboletas.
Isso nos permite entender uma importante relação entre pensamento, sentimento e comportamento. Existe um ciclo coerente entre aquilo que pensamos, o modo como nos sentimos e a forma como nos comportamos. Esse ciclo pode ser vicioso ou virtuoso, dependendo do seu resultado. Dentro de um ciclo vicioso, se uma pessoa que precisa realizar uma prova pensa que a matéria é muito difícil e se acha incapaz de aprender, a tendência é que ela sinta insegurança, medo, desmotivação, não desenvolva uma boa estratégia de estudos, tenha “brancos” durante a prova e, consequentemente, apresente um desempenho ruim. Se, por outro lado, o desafio de realizar a prova for visto como algo alcançável e a pessoa reconhecer sua capacidade de aprender, ela sentirá confiança, buscará formas eficientes de estudo, colocará em prática os conhecimentos adquiridos, tendo, dessa maneira, um ciclo virtuoso de bom desempenho.
Podemos concluir, com isso, que nosso pensamento é muito poderoso. Não se trata, pois, de um poder mágico, que atua em nossas ações como se fosse um feitiço sobre o qual não temos nenhum controle. O ciclo pensamento-sentimento-comportamento pode ser modificado se confrontarmos nossos pensamentos com dados realistas, que nos permitam perceber as situações, a nós mesmos e o outro de maneira diferente. Mas isso é assunto pra uma outra conversa…
Inscreva-se em nossa página e acompanhe as publicações semanais. Ajude-me a construir este espaço mandando dúvidas e curiosidades sobre o tema na aba contatos. Lembre-se de curtir e compartilhar com os amigos, caso tenha gostado do texto.
Obrigada por me seguir!
Commentaires